Hipócritas
o sangue dos mutilados
desce pela cruz
saciando a fome, a sede
o vício e os delírios
da mediocridade empunhada
pelos sumos sacerdotes
que temem a morte...
os pedaços que foram execrados
e em valas sepultados
adubam a terra bandida...
falsa puritana, se contorce de prazer
a cada naco de corpo degustado
pobres seres mutilados
sangram aos poucos
nem mortos, nem vivos
alimentam fantasmas
ferindo sua própria carne
nas escadas das igrejas
imaginárias, coabitam
dividindo parcas esmolas
entre a dor e a sanidade
festejam migalhas...
escorra dos mutilados, sangue maldito!
manche por inteira a cruz
que tanto te seduz
coagule nos vãos da madeira
em um ato indecente
covardes seres mutantes, que se deixam encantar
por um rasgo, um raio, um átimo de poder
semi-vivos, semi-mortos,
se quisessem, realmente a morte
não compactuariam com a vida
e seus sacerdotes...
Deliciam-se na dor que os consome
na cor do líquido que vertem
em suas feridas em chagas, abertas
exibem sua exuberância, um suicídio
uma lei, um decreto
mas, não os seguem...
abraçam suas cruzes
copulam com a arte da vida
e fingem desejarem a morte
hipócritas...