SALVAÇÃO DO SILÊNCIO
Me sinto meio louco.
Loucura. O mundo louco.
Os sons e imagens fundam o mundo tecnológico.
Turbilhão em movimento. Em linkadas
Mas,
Estou incomunicável,
Em paradoxo, pois
Escuto o barulho do mundo que não me comunica mais.
Sinto, apenas, o desconcerto do mundo (camonianamente).
Vozes me falam ao ouvido em distâncias mínimas
Esforço-me para atendê-las,
Para ouvir. Estranheza.
O problema sou eu.
Tem que ser eu.
Um carro, apenas, na contramão? Impossível.
(Ou fato literário.)
Tenho consciência do fato
Não estou ou sou inocente.
Visão adâmica: castigo certo
Parece-me o pecado. Comunicar-me
Ser comunicado. Estar comunicando.
O silêncio me preenche.
Não há trocas.
Tudo me choca no silêncio da vida.
Simples questão de entender?
De entrar no jogo pós. Não sei.
Não sei ou sei: espaço em branco do entendimento, da ligação ao mundo – ação fundante de sentido.
Sentido, pois: quero construir.
Mas o mundo é em calma e silêncio
Em uma realidade:
Global
Internética
Conectada
Computadorizada
Sinto-me, apenas:
Um estranho na rede (no ninho, tempos pós!)
Não há mais cobranças,
Reclamações,
Desejos,
Buscas,
Vontade.
Hã um eu: só
Alguns diriam: então, morrer.
Também não consigo
Pois, mesmo no vazio, no escuro
Enxergo: a saída. A salvação.
A palavra.