ANGÚSTIA

Com um fétido hálito imundo,

De repente o meu braço agarrou

E no meu peito, bem lá no fundo,

Sua lâmina mortal enfiou.

Então jogou-me no chão, desfeito,

E como lixo, no meu rosto escarrou,

Rindo, e achando pouco o seu feito,

As minhas duas pernas quebrou.

Já quase sem vida, meu corpo largado,

Às profundezas tenebrosas levou

E, defronte à um altar nefasto,

Sua negra e aquilina garra cravou.

E rasgando o meu peito moribundo,

Em êxtase um grito nefando bradou;

E revelando o maior prazer do mundo,

O meu sofrido coração devorou.

Ah... pobre deste ingênuo amante,

Que até o fim se humilhou...

Tornei-me um nada, um vazio errante,

Até a minh'alma aquela ingrata matou.

E no derradeiro tormento,

Uma gargalhada medonha soltou,

E naquele fúnebre momento,

A sua face horrenda mostrou.

Então, com olhos negros me encarou,

Sem pudor, zombou da minha tolice,

"Sou a angústia, sou tua", me disse,

"Agora vou levar o que de ti restou..."

Aprendiz das Letras
Enviado por Aprendiz das Letras em 05/11/2012
Reeditado em 16/01/2013
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