ANGÚSTIA
Com um fétido hálito imundo,
De repente o meu braço agarrou
E no meu peito, bem lá no fundo,
Sua lâmina mortal enfiou.
Então jogou-me no chão, desfeito,
E como lixo, no meu rosto escarrou,
Rindo, e achando pouco o seu feito,
As minhas duas pernas quebrou.
Já quase sem vida, meu corpo largado,
Às profundezas tenebrosas levou
E, defronte à um altar nefasto,
Sua negra e aquilina garra cravou.
E rasgando o meu peito moribundo,
Em êxtase um grito nefando bradou;
E revelando o maior prazer do mundo,
O meu sofrido coração devorou.
Ah... pobre deste ingênuo amante,
Que até o fim se humilhou...
Tornei-me um nada, um vazio errante,
Até a minh'alma aquela ingrata matou.
E no derradeiro tormento,
Uma gargalhada medonha soltou,
E naquele fúnebre momento,
A sua face horrenda mostrou.
Então, com olhos negros me encarou,
Sem pudor, zombou da minha tolice,
"Sou a angústia, sou tua", me disse,
"Agora vou levar o que de ti restou..."