Pó Do Tempo
Reguei os dias com meu próprio sangue
da flores que colhi faço um buquê
e enfeito o altar sagrado do meu tempo...
Quebro o silêncio com preces solenes
tiques-taques do meu coração...
Ainda, num ritual, desenho o belo
em letras garrafais celebro a vida
que entalha em risos, o meu ser sereno...
Espalmo cada metro desta estrada
e o céu que eu concebi, aqui,
dedico em oferenda a quem ficar...
Amor que foi a força-mor, motriz
de cada ação, sementes que semeei
e suntentou-me em paz pelo caminho...
Que aqueceu meu ninho, encheu celeiro,
deu colorido e luz ao meu tinteiro,
vestiu de encanto o verso corriqueiro...
Foi mensageiro e escudo nas tempestas,
o brilho encantador de cada dia,
meu pão, minha ilusão, a fantasia,
que permitiu-me ser e estar aqui...
Hoje são versos e bem sei que um dia
Serão o pó sem brilho, véu puido
a descobrir a imagem do que havia...