NÃO-ESCRITA
Não te escrevi uma linha.
A caneta-tinteiro sobre a mesa
é testemunha de mim, sozinha,
a chorar tristeza, indefesa.
Não te culpo pela noite sem sono
nem pelo meu outono,
muito menos pelo abandono
de cão sem-dono.
Mas a tinta que não gastei
e a caneta que não usei
são provas do que não sei
dizer do muito que te amei.
Eis que as tenho como indício
de uma solidão-precipício,
de uma vida sem auspício,
chegando ao fim, sem início.
Com tinta não te escrevi
mas te digo o que sofri:
adiante não vou sem ti!
Não vivi e já morri.