UMA COR EM SEUS OLHOS
Eu já vi aquela cor em teus olhos
Temível cor...
Um cinza triste e nublado flutuando em teu olhar
A verdade da vida parece ter te alcançado
Não vejo seu medo...
Não encontro teu sorriso...
Não sei mais quem é você?
Para onde foi a menina que foste?
As cidades por onde você vagou hoje guardam lembranças suas
Estive lá nos dias mais frios
vi suas marcas...
O relvado da colina também conhece você
Há uma digital indelével de teu ser nas rochas do topo
Lugar que a relva não pode cobrir...
Mas será que vai?
Que um dia vai?
Você não se importa...
Tive um vislumbre seu em antigos mausoléus sombrios
Onde os mortos já não jazem tão mortos quanto antes
As pessoas insistem em revivê-los...
Eu vi você...
Segui seu olhar pelas lapides apagadas
Pelas cruzes quebradas
Senti nas narinas o odor das velas derretendo
Algum cheiro velho de putrefação?
Minha mente teima que sim...
Eu rastreei você na floresta úmida
Onde arvores frondosas e cansadas ocultaram teu perfil de mim
Tua sombra fundida as sombras delas...
Arvores outrora falantes em alguma bela fabula...
Que segredos elas te contaram?
Eu sei... você não vai me dizer...
Eu persegui você num deserto tão imenso e seco que o ar parecia pesado
E a vi evaporar num vapor tórrido de incerteza
Efêmera...
Etérea...
Fugaz...
Eu via aquela cor em seus olhos...
Numa manhã em que o dia ainda era jovem...
E nunca mais pude esquecê-la.