A Esfinge sem Sombra

Em breve se formará diante de nós um deserto

E erguer-se-ão da areia sete monstros opacos

Que se sentarão sob o sol, alheios à dor

Essa dor que será nossa herança

Como um manto bordado sem brilho.

E cada dia será de aflição

Cada noite descerá como um inverno sem fim

E nunca nos acostumaremos com os dedos do passado

A tatear nosso peito, feito formigas extintas

Que extraem açúcar do suor.

Depois dançarão as miragens

Incansáveis e ao som de cada nota de cada canção

De cada disco guardado no pó

E os acordes, como uma caixa de música muda

Abrirão caminho entre as dunas para o vento da morte passar.

E em nossa carne será talhada a imagem do amor infindo

Esse amor que ser algum viveu

E já não sofreremos de saudade ou remorso

Já não se ouvirão nossos ínfimos suspiros de esperança

Porque soará, ao fim, tão somente o sibilo do caos.