ULISSES
Dei dois reais ao limpador de pára-brisas
Isso me faz ser melhor entre os melhores
Sou homem.
Bondade.
Sentimento de culpa.
O que é ser bom? O que é não ser?
Devo ter orgulho
Gritar ao mundo: olhem, dei dois reais ao limpador de para-brisas.
Me sinto melhor?
Mais humano?
Haverá um encontro com aquele que chamo DEUS depois desse fato cósmico?
Deve ser: sistêmico o mundo.
As forças estão interligadas.
Mas o mundo continua o mesmo
Desde que eu dei dois reais ao limpador de para-brisas.
Estranho, não me sinto mexido
O vento não caminhou diferente
Segundo alguns, os astros não estavam alinhados com a lua e blá blá blá
Porém deveriam, pois.
Dei dois reais ao limpador de para-brisas.
E é um fato incomum
Na mecânica do mundo que roda
Outros dariam menos, muito menos
Eu não. Eu dei dois reais ao limpador de para-brisas.
Deveria ser outro mundo, outra cosmovisão
Diante dessa ação epopaica
Isso: me sinto Ulisses. Estou a caminho de Ítaca de mim.
Sou herói
Estou no mito
Posso dormir em paz
De consciência negra
De cabeça altiva
Porque hoje no meio do dia
Atribulado de homem-urbano
Dei dois reais ao limpador de para-brisas.
-ei, moço, moço, posso limpar seu para-brisas?