NÃO QUERO A DOR DO OUTRO
Não quero a dor do outro
Por que tenho que sentir a dor do outro?
Quem determinou esse peso em meu ser
A dor do outro é do outro não minha
Não que não a tenha
É minha: específica.
Não quero a dor do outro
A felicidade não deve ter ligação com a dor do outro
Sinto, no entanto, o que não quero
E isso não me humaniza: me deixa subtraído
Não quero a dor do outro
A dor escultural
A dor hormonal
A dor neural
Que não é natural (pobre rima...)
Um verme deve ser melhor do que eu
Neste momento que não quero a dor do outro.
A fraqueza impede que possa
Sustentar dois mundos, milhares de mundo.
Chego próximo
Amasso a dor
Cheiro a dor
Permito-me prazer a dor
Desde que não possua a dor do outro
O outro, já diz tudo: o não eu.
Invenção filosófica: os eus no eu; o eu no outro.
Não quero a dor do outro
Deixe-me ser desumano, por favor
Com o outro que não quero a dor
Preciso dessa omissão
Desse fechar os olhos
Dessa ação atemporal
Disso que chamamos eu
Daquele cruzar os braços para trás
Naquele instante do duplo negativo em mim
Não quero a dor do outro
Ela não me pertence, já disse
Me é indiferente
E meio inconveniente (novamente, pobre...)
Quero, apenas
Ser sabedor que
Não quero a dor do outro.