NÃO QUERO A DOR DO OUTRO

Não quero a dor do outro

Por que tenho que sentir a dor do outro?

Quem determinou esse peso em meu ser

A dor do outro é do outro não minha

Não que não a tenha

É minha: específica.

Não quero a dor do outro

A felicidade não deve ter ligação com a dor do outro

Sinto, no entanto, o que não quero

E isso não me humaniza: me deixa subtraído

Não quero a dor do outro

A dor escultural

A dor hormonal

A dor neural

Que não é natural (pobre rima...)

Um verme deve ser melhor do que eu

Neste momento que não quero a dor do outro.

A fraqueza impede que possa

Sustentar dois mundos, milhares de mundo.

Chego próximo

Amasso a dor

Cheiro a dor

Permito-me prazer a dor

Desde que não possua a dor do outro

O outro, já diz tudo: o não eu.

Invenção filosófica: os eus no eu; o eu no outro.

Não quero a dor do outro

Deixe-me ser desumano, por favor

Com o outro que não quero a dor

Preciso dessa omissão

Desse fechar os olhos

Dessa ação atemporal

Disso que chamamos eu

Daquele cruzar os braços para trás

Naquele instante do duplo negativo em mim

Não quero a dor do outro

Ela não me pertence, já disse

Me é indiferente

E meio inconveniente (novamente, pobre...)

Quero, apenas

Ser sabedor que

Não quero a dor do outro.

JAMERSON SILVA
Enviado por JAMERSON SILVA em 03/11/2012
Código do texto: T3966593
Classificação de conteúdo: seguro