Ressuscita-me
Inspirado no Áudio
"Não sei de mais nada"
Marcos Lizardo
"Todas as coisas tem o seu mistério,
e a poesia é o mistério de todas as coisas."
Federico Garcia Lorca
Ressuscita-me
Penso que vejo anjos
Sorriem para mim
Fazem caretas e travessuras
Ingênuas criaturas
Crianças...
Meninos franzinos
Meninas de tranças
Entrelaçam asas e dançam entre si.
Não me despertem desse encanto
Quero aguar jardim celeste
Cultivar flores silvestres com regadores
D'água jorrando da fonte
Nascendo d'alma de mim.
Borboletas pousam em meu ombro frio
Quase congelado
A orquestra me aquece
Como ninguém nunca foi aquecido
Só dentro do ventre e logo depois de parido
Nos braços de Mãe, ainda pagão
Recebendo o sumo da primeira sugada.
Tão teu
Tão meu
Tão íntimo
Tão nosso
Quase sagrado.
Ninguém nunca foi tão amado
Com estonteante suavidade e leveza...
Sinfonia e orquestra em meus devaneios...
Espetáculo assistido pelo próprio ator
Quando alva bailarina nas pontas
Se queda ao som do "Lago dos Cisnes"!
A cortina de veludo vermelho, fecha
Abre-se aos ensurdecedores aplausos
Estrelas se confundem
Num único ato
E na pele da vida, a quase-dor da emoção
Fazendo ranhuras nos poros da pele
Arrepios...
Silêncio!...
Ouço estrelas e sussurro hipnotizado
Um dialeto de tribo indígena, desnudos!
Onde estou?
Serás Ceci e eu Peri?
Me deixe morrer em teus braços
Orando Ave-Maria!
Levá-me Senhor!
Me cobre com teu manto
Morro santo.
Desfaleço
Tênue fio de vida
A morte-viva da poesia
Ressuscita-me.
Tony Bahia