Revolta
Num tempo perdido para os dois lados
limpo a terra suja que me cobre os olhos.
Alinhados, os bonecos
cantam tenebrosas melodias
ensaiadas nos chifres da censura.
Marcam o caminho num compasso aritmético
surripiado aos exércitos russos.
São necessárias vítimas
para saciar os seus vampirescos instintos.
Vigiados pelo senhor
na linha vermelha dum sol fingido,
matam por prazer
na fidelização da prometida ditadura.
Mexo um dedo para acreditar que respiro.
Fico assim,
sem tempo nem lugar
à espera que as ervas daninhas encovem um país
que chegou a ser pátria.
Sobra o teu olhar azul
que bem poderia ter sido sonho
para arder até ao fim...
Raia Serra
Maio 2010