Revolta

Num tempo perdido para os dois lados

limpo a terra suja que me cobre os olhos.

Alinhados, os bonecos

cantam tenebrosas melodias

ensaiadas nos chifres da censura.

Marcam o caminho num compasso aritmético

surripiado aos exércitos russos.

São necessárias vítimas

para saciar os seus vampirescos instintos.

Vigiados pelo senhor

na linha vermelha dum sol fingido,

matam por prazer

na fidelização da prometida ditadura.

Mexo um dedo para acreditar que respiro.

Fico assim,

sem tempo nem lugar

à espera que as ervas daninhas encovem um país

que chegou a ser pátria.

Sobra o teu olhar azul

que bem poderia ter sido sonho

para arder até ao fim...

Raia Serra

Maio 2010

Raia Serra
Enviado por Raia Serra em 02/11/2012
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