A POESIA EM MIM
A poesia me trancou no banheiro
Chegou-se para mim em frente ao espelho
Me barbeou
Esfregou sua mão em todo o meu corpo, testa, cabelo e
Massageou-me inteiro
Olhou profundamente para mim
E pensou, pensou
Retirou minha roupa
Aparou meus pelos, calmamente
E novamente me olhou
Com tom irrequieto,
de autoridade.
Levou-me ao chuveiro
Deixou que a água batesse friamente em meu corpo
nu, exposto
Deliciosamente, me esfregou ao cair das gotas
Ensaboou-me explícita e intimamente
Disse-me seu corpo: tu
Suas mãos esfregavam-me suavemente
Água. Abundância. Corpo nu e molhado
E a poesia se permitiu horas de líquido em mim
De olhos arregalados não pude observá-la
Pegou da tolha e enxugou o físico de meu eu.
Levou-me ao espelho (amigo verdadeiro). Postou-me
a sua frente. E vi, de repente, a poesia.
Que manejava a toalha já ensopada.
A desensopar o corpo meu.
Limpo e enxuto, a poesia
Massageou toda a derme: canto a canto.
Perfumou-me frente ao espelho: frente a si, frente a mim.
Eu e a poesia. Nus e perfumados.
Eu na poesia.
A poesia em mim.