A POESIA EM MIM

A poesia me trancou no banheiro

Chegou-se para mim em frente ao espelho

Me barbeou

Esfregou sua mão em todo o meu corpo, testa, cabelo e

Massageou-me inteiro

Olhou profundamente para mim

E pensou, pensou

Retirou minha roupa

Aparou meus pelos, calmamente

E novamente me olhou

Com tom irrequieto,

de autoridade.

Levou-me ao chuveiro

Deixou que a água batesse friamente em meu corpo

nu, exposto

Deliciosamente, me esfregou ao cair das gotas

Ensaboou-me explícita e intimamente

Disse-me seu corpo: tu

Suas mãos esfregavam-me suavemente

Água. Abundância. Corpo nu e molhado

E a poesia se permitiu horas de líquido em mim

De olhos arregalados não pude observá-la

Pegou da tolha e enxugou o físico de meu eu.

Levou-me ao espelho (amigo verdadeiro). Postou-me

a sua frente. E vi, de repente, a poesia.

Que manejava a toalha já ensopada.

A desensopar o corpo meu.

Limpo e enxuto, a poesia

Massageou toda a derme: canto a canto.

Perfumou-me frente ao espelho: frente a si, frente a mim.

Eu e a poesia. Nus e perfumados.

Eu na poesia.

A poesia em mim.

JAMERSON SILVA
Enviado por JAMERSON SILVA em 31/10/2012
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