TRILOGIA DA PIORIDADE
OUAPOPLEXIA DE TODOS OS FINS
OU
O FIM DOS HOMENS PUROS
(SOLIDÃO - AGNOSIA - CARCINOMA)
SOLIDÃO
Porque me lançam esse olhar de compaixão
Não serei mais digno de respeito?
Ou essa piedade demonstrada é só desprezo.
Pelo tempo impiedoso que passou?
Pele e ossos enrugados, desgastados,
Escamoteiam os sentidos dessa dor
Destruindo por inteiro uma existência.
Pobre alma que agoniza solitária
Nas lembranças desta vida que passou,
Corroendo por completo este farrapo
Quase humano que restou.
AGNOSIA
Que rosto é esse refletido no espelho
Que tão atento me espia?
Só angustia em teu semblante transparece
Nessa alma que se apaga em sofrimento
Revelando o não saber-se porque morre.
Que rosto é esse tão distante de meus sonhos
Que teimoso me revela só verdades?
Exibindo descarada decadência
De uma vida carcomida pelo tempo
Nesse fim que desumano me avassala.
Que rosto é esse que horrendo me persegue
Não sabendo em que momento se perdeu?
Que loucura transformou-me neste insano
Fugitivo das torturas do esquecer?
Só restando o desconsolo do existir
Quando não se pode mais viver.
CARCINOMA
Sou das sombras a mais opaca,
A que reduz a imagem a nada
Transformando luz em sombra
No espectro desumano de teus dias.
Sou da sorte a infame mais perversa,
Que castiga os teus medos mais profundos
Mendigando na quimera do existir
Outra sina que não seja tão funesta.
Sou a angustia mais profunda,
Do remorso que corrói penantes almas
Deflorando as luxúrias recônditas
Nos abismos lamacentos de teu ser.
Sou repulsa agonizante sou cruel,
Que transforma existência em sofrimento
Neste corpo putrefato semimorto
Aguardando, sem sentido, pelo fim.