THIS IS NOT AMERICA

Brutos de rosto e bruscos de gestos,
de nós se aproximavam timidamente,
como se já tivéssemos por eles tido
antiga amizada ou com eles negócios.
Mascavam algo de verde com gosto,
e muito se admiravam de nosso aspecto,
tocando-nos as carnes e os tecidos.
Curiosos e desnudos, vivendo em pecado,
muito folgavam com nossos agrados.
Terra imensa de cores extravagantes,
sem engenho ou modernidade que seja,
dada á selvageria da libido desenfreada,
era o exílio da gente de peles expostas,
e de animais assustadores jamais vistos.

A eles oferecemos nossos utensílios,
algo  tão prosaico quanto inútil,
e muito folgaram com nossos regalos.
Ofereceram-nos suas contas e penas,
e em sua lígua estranha e bárbara,
expressavam contentamento imenso.

Gente dada a festejos e á indolência,
muito se alegraram de nossa estadia,
em suas danças canhestras à noite,
em volta da imensa fogueira feita.
Mas de alguns de nós, mais fortes,
mais se agradaram e fizeram festa.
E capturados fomos pela gente índia,
e acomodados estamos em gaiolas.
De nós, dois estão sobre a fogueira,
em pedaços, assados como frangos.
A gente selvagem vorazmente os mastiga,
homens, mulheres, velhos e crianças,
e creio que enquanto este textículo escrevo,
fitam-me com olhar de cobiça e fome,
aguardando que tome um pouco de corpo,
para em breve na fogeira ser também assado.
Malditos esses silvícolas desvirtuados.

Por certo que o bom selvagem é mito.
Como confiar em terras ao sul,
já afamadas por suas espertezas?
Como confiar na gente quase desnuda,
que mostra suas partes sem pudor?
Certamente, morrerei, mas amaldiçoo,
com veemência e convicção,
o dia que esta terra de gente inculta,
de hábitos adulatórios e dissimulados,
me viu surgir na virgem praia de Vera Cruz.