UM PUTO
UM PUTO
Em França minha vida começou a melhorar,
de melhor em melhor.
Arranjei um trabalho num jornal.
Mas descobriram no meu visto algo ilegal,
e me deram 15 dias para sair.
Falei ao editor que tinha a idéia de ir a Portugal,
e a máquina se meteu em marcha.
No Brasil tinha revolução, que participei
à minha maneira.
Era um tal de mandar cartas enigmáticas por aí,
tudo para o SNI enganar .
Meus camaradas contavam que em todos
lugares havia farda e castigo.
A rapariga com quem me tinha juntado,
ficou com um amigo.
Me meti a frequentar bailes portugueses,
para fazer novos conhecimentos,
talvez a mulher da minha vida.
Tudo ia pôr o melhor do mundo.
Às vezes dizia: - Ah! se fosse ao menos um puto!
Num domingo, uma rapariga fixou os olhos em mim
ao mesmo tempo em que a fixei.
Ela era muito sisuda, mas nos amamos,
e tudo ia no melhor do mundo.
Me faltava o português, melhor educação,
mas resolvi tirar carta de condução.
Compramos nova mobília para equipar
o novo apartamento comprado.Um prazer!
A vida estava a sorrir.Eu a meditar:
um provérbio diz "o amor faz viver",
"La vie continue comme un fleuve tranquille,
en franchissant des obstacles"!
Mas perdi o trabalho.No Chiado.
Desempregado perdi o gosto à vida.
A minha amada, fazia todo cuidado,
para me elevar o moral; que era um chulo.
E eu não comia, não suportava a lida...
.
A minha amada dizia sempre. "Aclara
a valentia, porque o futuro
está à tua frente,se te depara".
Mas quem bateu de frente foi ela:
O carro bateu num oleoduto!
Morreu em meus braços,tal como gazela,
e nunca senti tanta vontade de ser um puto.
DON ANTÔNIO MARAGNO LACERDA
Prêmio UNESCO/poemas/jornal
www.jornaldosmunicipios.go.to
jornaldosmunicipios@ig.com.br
* Nota: "puto"em Portugal é criança.