Utilidade
Esqueçamos a utilidade
da cebola para a culinária.
Pensemos na beleza estética
do tubérculo.
Extraída da terra
que lhe serviu de casa,
que a nutriu,
é bela de se olhar.
À medida que seca
em contato com o exterior
ela se doura.
Parece
ou um novelo dourado
ou uma bola de natal.
Desfolha-se em cascas empalhadas.
Se deixar, tenta brotar.
Rebentos verdes aparecem
chamando nova terra para brotar.
Algumas são roxas.
Escuras. Lembrando beterraba.
Se não usada na cozinha
não teria outra expectativa
a não ser secar e murchar
- brotaria, se fosse...
Serviu ao Poeta
para exercitar
este ofício louco
de escrever e escrever
- escrevente.
Se a tivesse picado
serviria para meus olhos
lacrimejar e depois
ao meu paladar
notificar o sabor do prato.
Quase nada é inútil.
Leonardo Lisbôa – Barbacena, 10/04/2011
POEMA 575 – Caderno: Prancha de Surfista.