SEXTA PALAVRA DO CRUCIFICADO - RUNAWAY CARAVAGGIO


 


                                "O que fazer com a felicidade que não vem?
                                                       Vou adquirí-la por vinte reais."
                               Eduardo Negs Castro - in a Jornada sem sentido

 

 

 

 

Tudo acabado e o sacrifício feito,
o cordeiro arquitetado em cinza e preto,
o naufrágio do tempo e a tempestade no espelho.

Dos ossos da guerra que travei em seu coração,
das chamas extintas de um sol binário e escuro,
faço o perdão que ofende e a palavra escarlate,
desenhada no céu a tiros e golpes de estilete.

E ser humano demais é se entoxicar de dor,
é ser inferno oculto em cada canto de amor,
é rimar os espinhos com o fio da vida que costura a pele.

Longa noite, à espera do beijo que condena,
que inventa o comércio de minha mente estreita,
em livros antigos, em frontispícios de templos,
em casas de moças e em esconderijos de poemas.

Sou a imitação da arte da vida tão breve,
o império do som que desaba montes e muralhas,
o sibilo dos espíritos errantes, submersos na espera,
envenenados por relógios e traidores por natureza.

Essa canção dos braços abertos e crivados,
na madeira escura e ensanguentada,
é o meu triste perdão ao coração machucado,
feito do lamento das crianças perdidas,
feito das cores de uma tela numa noite fria,
de um azul tão denso quanto a própria vida.

É aqui que entendo a morte que me viu passar,
num caminho ascendente e sem céu de limite,
abraçando ao mundo e perdendo o meu lar.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 28/10/2012
Código do texto: T3956884
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