QUINTA PALAVRA DO CRUCIFICADO - AGNUS TERRAM
Com que elemento escuro e frio,
se alterou o silêncio do templo?
E com os lábios cerrados para a poesia,
pertenço às nuances da escrita antiga,
desde que o mundo é feito de fome e chagas,
e o invisível de projeções desescritas.
Sou humano, sou o rompimento do músculo,
aquele que jamais feriu seu coração e no entanto,
se esqueceu do mundo quando parou.
E vou parar, não mais chorarei suas dores perdidas,
guardadas entre quatro paredes sem saída,
criadas pela arte do assassinato lento e frio,
como um grito não dado e uma doença escondida.
E eu tenho em minhas mãos obrigatoriamente abertas,
tudo o que corre pelo meu corpo quando em vida,
feito o narcótico que adormece meus dias,
para que de seus corpos seja feita a celebração do pecado
que habita sob tecidos cinzas e orações sofridas.
Eu sou a invenção inconstante e a morte prevista,
deixado ao mundo como presente da equação cíclica,
delírio de uma solidão em meio à gente proscrita,
que viu nascer o mundo e seu negador do céu de mentira.
E me arrasto, me corto, me drogo, me invento,
enterro em sua mente o temor mais terrível
e o castigo mais vil para seu desejo indomável,
para que aos pés, de onde escorre o que de divino resta,
eu massacre o que sobrar de sua mente, pela minha ira.
Isso é ser o homem que chora e assassina.
É ser o abandono do céu e a negação da vida.