QUINTA PALAVRA DO CRUCIFICADO - AGNUS TERRAM

 

 

Com que elemento escuro e frio,
se alterou o silêncio do templo?

 

E com os lábios cerrados para a poesia,
pertenço às nuances da escrita antiga,

desde que o mundo é feito de fome e chagas,
e o invisível de projeções desescritas.

Sou humano, sou o rompimento do músculo,

aquele que jamais feriu seu coração e no entanto,

se esqueceu do mundo quando parou.
E vou parar, não mais chorarei suas dores perdidas,

guardadas entre quatro paredes sem saída,

criadas pela arte do assassinato lento e frio,

como um grito não dado e uma doença escondida.

 


E eu tenho em minhas mãos obrigatoriamente abertas,

tudo o que corre pelo meu corpo quando em vida,

feito  o narcótico que adormece meus dias,

para que de seus corpos seja feita a celebração do pecado
que habita sob tecidos cinzas e orações sofridas.

 

Eu sou a invenção inconstante e a morte prevista,

deixado ao mundo como presente da equação cíclica,

delírio de uma solidão em meio à gente proscrita,

que viu nascer o mundo e seu negador do céu de mentira.

E me arrasto, me corto, me drogo, me invento,

enterro em sua mente o temor mais terrível
 
e o castigo mais vil para seu desejo indomável,

para que aos pés, de onde escorre o que de divino resta,

eu massacre o que sobrar de sua mente, pela minha ira.

 


Isso é ser o homem que chora e assassina.

É ser o abandono do céu e a negação da vida.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 28/10/2012
Código do texto: T3956822
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.