CANTO 77
Amador Filho.
“VAE SOLI”! Ai do solitário. Palavras do Eclesiastes
para lembrar a fragilidade do homem que não pode con-
tar com ninguém.
Ao lembrar-me de ti nesta madrugada insone e fria, ouvi uma voz sinistra e misteriosa como que embebida de soluços, que parecia chamar, numa linguagem de harmonias imateriais, numa invocação ardente de prece, todas as almas feridas para as regiões ásperas do sacrifício, da resignação e da morte.
Lá fora o grande céu remoto, nas perspectivas longínquas deste momento, fazia-se pálido e tomava o aspecto de um sudário.
Nesta hora sinistra de fatídicos rumores, o ulular dos habitantes noturnos chegavam até meu retiro de dor e de silêncio, e fazia tremer meu coração, com seu clamor.
Santa Luz, 25 de maio de 1995