Amantes em versos
Amantes em versos
No casulo
Escuro
Sem barulho
Ecos e dissonâncias.
Costuro a dor n'alma
Escorre lacrimejando
Colcha de retalhos
Encharcando
A fronha e o travesseiro.
A dor é fardo
Nó cego
Fere meus olhos à luz
Pela fresta reluz
Círculos e elos.
Linhas retas
Caminhos paralelos.
Há tortura no trevo
Onde trevo não há.
Tremo
Escrevo
Não devo sufocar
Não quero morrer
Não quero matar...
Assassino de versos
Cega o luar.
Aparo arestas
Luares em festa
Sonho acordado.
Escuto Beethoven e Mozart
Ao mesmo tempo...
Toco piano
E flauta
O fogão é de cauda
O fogo à lenha.
A égua tá prenha
O verso nasce
Nunca precoce
Coloco no colo a cria
Embalo o rebento
Lambendo poesia.
Alimento.
Sangue e placenta
No pergaminho se deita
Senta
Levanta
E dança
Nas tetas.
Sacode a trança!
Parida no Haras
A potranca do chão se levanta
É deus
Franzino
Máscaras
Meus Eus
Minhas caras.
Desato o nó com os dentes
Cortando o cordão desse parto
Gnomos, anjos, duendes
Espalham sementes
No espaço.
Estrelas choram no céu
Nuvens acasalando chuva
Sal é açúcar
Noite é dia
Lua é sol
Alquimia.
Não sei que dia é hoje
Nem que horas são
Hoje transpira Domingo
Sino de Igreja
Oração.
Escuto latido de cão
Miados de gatos
Ruído de ratos
Vielas
Becos
Labirintos.
Famintos
Sangrando.
Estou entre escombros
Saindo asas
Dos ombros
De dentro pra fora
Se acomodam nas costas
Fere
Sangra
Exala.
Sussurro ao casulo
Saudade
Cantando
Chorando
Sorrindo
Voando...
Liberdade.
Borboleta cravada de espinhos
Um passarinho
Com bico incomum
Vai retirando os espinhos
Um a um.
A inspiração
É flor no universo
Morrendo
E nascendo
Pétalas
Amantes em versos.
Tony Bahia.
Republicação do meu texto mais lido em um ano de RL.