O SOL E O SAL
Estou sempre deixando passar minha mocidade,
perco no meio do caminho o espírito da caminhada.
Acho que não quero mais saber dessas viagens internas.
Aqui dentro é vasto demais, acabo sempre me perdendo.
Dizem, aqui dentro, que não tenho que ter necessidade
de fonemas e que eu não me preoculpe em querer
traduzir poemas ou saber a origem da dor.
Vai ver, por isso mesmo não saio daqui de dentro.
Mas a carne que me reveste, o sangue, as víceras,
não me deixam ficar muito tempo.
Dizem que não posso deixar passar a mocidade
trancafiada aqui dentro às escondidas.
Mas é lá que a noite se faz dia, e que se dane a mocidade,
não tenho tempo pra ela.
O sol e o sal que me temperam, também saem de lá,
assim como a velhice que me espreita, mas essa,
eu já mandei passear.
Tenho passe livre de dentro pra fora
e de fora pra dentro. Esse viver livre me conforta
mesmo sabendo que sou refém da liberdade...