[A Arte da Separação]
[Pouco sei da vida — uso muitas palavras para falar do Óbvio!]
Quem, na trama de um encontro, arde de desejo, sente incontida ânsia de conhecer, de desvelar, de coincidir física e espiritualmente: no espaço-tempo onde antes havia um, agora dois passam a coexistir — torna-se difícil saber onde um começa e outro termina!
Mas, em sobressaltos de medo e insegurança, um testa o outro constantemente, pois o Acaso engendra possibilidades... Na sempre insegura busca de ressonância, é recíproco o exigente teste de afinação — que haja mais e mais um reforço da vibração própria de cada ser pelo estímulo da vibração vinda do outro!
Visto assim, o encontro não é uma fina arte, mas é um embate de dois seres antes à deriva na [falsa] calmaria do Mar da Solidão, ou pior ainda — por um descaminho do Acaso, ancorados no porto errado numa longa permanência em estado de limbo de sensações, de desmanche de emoções!
E pelo simples fato de que não existe perdão, naquele teste de afinação, a qualquer deslize, quebra-se a ressonância e toma-se o rumo ditado pela separação. E assim, que a ingenuidade não nos conduza a perdas [falsamente] inesperadas — pois a vida é mais, muito mais a arte da separação!
[Eu gostaria de ser mais amargo que losna, calunga ou guiné, mas me falta talento!]
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[Desterro, 26 de outubro de 2012]