ROUBARAM AS PRAÇAS
Havia uma praça no caminho de todo dia
onde o tempo era tão sossegado
que corria mais lento que qualquer dor de poeta.
Era uma praça de todos, sem suicídios, algazarras,
nem mesmo cenas de adeus.
Os homens homenageavam seus amores
deixando que as rosas permanecessem vivas
cada qual em seu jardim, para que os compositores
e poetas eternizassem o cheiro peculiar daquela praça.
Era bonita a praça, tinha cheiro bom e era a extensão
das nossas casas.
Havia ali uma praça, e era ela o quintal da minha vida.
Hoje passo exatamente no mesmo lugar
contando o número de passos pra chegar a lugar algum...
As praças fazem desenhos nas nossas vidas.
Marcam para sempre, mas acabam morrendo esquecidas.
Arrancam os ipês e concretam nossos quintais.
A alma da minha cidade, da minha rua, da minha vida,
anda vazia de quintais floridos e eu ando
inconformadamente entristecida...