Meu desamor pelo amor
Ora no afago, ora no escarro,
a regra que dá ao amor seu alto preço
é seu teor caótico de recomeço;
sempre saboreado como o mais longo cigarro.
Pagamos tudo com sangue e pranto,
que se desmancham em frouxos sorrisos,
pelas sutis piscadelas e acenos imprecisos,
Quando de um novo amor ouvimos o teimoso canto.
Ah, se pudesse minha voz se sobrepor ao som,
diria: "calado!, não vês que estou já satisfeito?"
Sei que ele rir-se-ia de mim e diria, estufando o peito:
"A impaciência é dos mortais o maior dom".
E repousaria em meu silêncio, ciente de toda minha boçalidade;
não obstante meu desespero, seguiria com a cantoria,
rindo-se da minha inútil indagação perante sua consumada soberania;
Contagiar-me-ia com seu riso eufórico, novamente, por pura crueldade.
E eu, outra qualquer a sorrir em sua presença;
escrevendo mais um poema-clichê sobre seus encantos,
Dentre estúpidos risos perceberia, entretanto,
o choro contido ao notar que em mim só há dele a ausência...
Ao amor. 26-10-12