Dejá Vu

Imagino o doce cantar e  imagino o Uirapuru.
Tarsilia nos deu a sua quase homonomia
para que soubessemos o frescor da mata,
mas o que só se vê são doutores de gravata.
E, no entanto, há silvos no ar.
E tantos Silvas a mourejar.

O sertão de verdade.
Do verde que não arde.
Banzo do cativo da cidade.

É o canto da sabiá de Jobim,
mas nem todos voltaram, irmão do Henfil.
Moiras fardadas cortaram-lhes o fio.

Clowes usam ternos e fingem ocupação.
Terrível destino: ocupar-se da inação.
Contudo, há remédio para tal situação:
quem sabe, cultivar uma árvore? Será que não?
Creiam! É mais importante que qualquer brasão.
Não pisamos no tapete. Só no chão.
Símbolos de status são fogos-fátuos,
só existem pela nossa carência de prestar veneração.

Não nos dá Sentido, porque sentido não há.
Vivemos sem saber por qual motivo.
Haja choro ou riso, Viver é Preciso.

Mas podemos sonhar com o Uirapuru,
ou com o  canário-da-terra e de quem vive nela.
Talvez ainda, com o bem-te-vi.

É o que nos resta. O eterno dejá-vu . . .