O HOMEM DIANTE DO OCULTO
Infância
De onde lhe parte a sombra,
à parte do que lhe sobra
abre-se a senda que em nada
para dentro o transporta.
E o homem colhe o peixe,
pesca a fruta, bebe a carne.
Que lhe resta? O que escondido
mostrou-se, que em novelo revela.
Depois urge que ele saia.
Mas para onde o caminho?
Pra fora de quê? Do agora,
do que outrora fora dentro
e expõe-se então afora.
E o homem bebe a sede
colhe a fome, pesca a falta.
São coisas de todo dia
sempre novas, envelhecidas.
Porque algo ainda lhe falte
é que ele segue a estrada,
mas sempre há um entorno
um contorno e o retorno.
nunca há de lhe ocorrer
ficar à beira da estrada?
Porque o homem não pare,
algo sempre se lhe oferece.
E ele caça, pesca, colhe
o que foge, escorre e morre
como se lhe pertencesse
o que por natureza escapa
o que é perda, o que lhe é falta
e não lhe adere a pele.
E tudo isso lhe fere.
Porque nada lhe confere
par de luvas para as mãos
seus dedos finca-os ao chão
rimado, bem ritmado
cada coisa lado a lado
a fome, a sede, a falta
sentida, bebida, medida.
Edil C. Santos