A pequena história das cigarras desoladas e outros carnavais
Queria ficar sentado na calçada olhando os elefantes celestiais
Mas tenho uma conta para pagar, a senha para registrar e o cartão para bater
Ficar debruçado diante de Borges ou Eça
Mas temos os tomates para colher, as carnes para cortar e o genro no corredor
Estou perdido entre algumas senhas, mas poderia está contido num Bilac
Olhávamos o carnaval, eu e a colombina.
Antes da janta tem a Ave Maria e antes do fim tem Van Gogh
Cigarras desoladas sentam-se na mesa aguardam o pão
Havia uma mangueira florida, um garoto de peito aberto e um gato
Temos também o ônibus, o relógio e o consumo
As cigarras desoladas jantaram e assistimos o telejornal
Joyce bebia cerveja e Lispector camomila
Não sabia que era assim.
Todo dia trinta era assim, essa fila, essa agonia
Essas cigarras e aqueles carnavais
Sentado sob a pitangueira não sabíamos o que era relógio
Aquela mecânica sem freio parecia uma roda gigante
Mas era o porta voz do tempo, era um carrasco
Poderia ser a chuva, a brisa, mas era o tempo.