Catalepsia

Crivado de balas jazia o defunto

Fedorento

A apodrecer solitariamente ao relento

Vermes vorazes saboreiam sua carne

Empanturram-se da empáfia, saborosa e proteica

Albuminóides de arrogância

Fartam-se de desonestidade

Digerem o garbo e a prodigalidade.

As pestilentas almas errantes

Semeiam as pragas da nova estação

Aberração

Perseguem suas presas, incansáveis

Insaciáveis espectros do mal

Aspergem a morte pelos vales e campos

Semeiam o caos

Nas mentes obtusas dos prepotentes.

O poeta trilha seu estreito caminho

Em meio a versos, palavras sem fim

Traça à caneta seu próprio destino

A lua, os planetas, do Universo, os confins

Pretende escalar as montanhas do Norte

Engalfinhar-se em luta acirrada

Com a morte

Depois deitar-se na relva macia

Entregar-se aos braços de Morfeu

Dormir o sono dos justos

Sonhar com o dia

Em que o homem finalmente despertará

De sua inexorável e mórbida...

Catalepsia.

CARLOS CRUZ – 27/02/2007