Este não, aquele outro,
Eu fui sendo aos poucos
E eu fui sendo feito assim
Aos prantos e aos trancos,
No encantamento tanto
De uns tantos desencantos,
Aos poucos e muito pouco,
Aos loucos que me entendem
E a esses assim tão poucos
Que nem me surpreendem.
E fui feito assim de permeio,
Metade anjo, metade demônio,
E inteiro irreal, inexistente.
E é minha sina estar no meio,
Entre os que se desencontram,
Os que morrem e os que nascem,
Entre os voadores e os rastejantes,
Entre os certos e os errantes,
Entre os próximos e os distantes,
Entre os crédulos e os sonhadores,
Entre os pacíficos e os beligerantes:
Que entrem então os contendores!

A este mundo cinza eis que trago
Alguma utopia em cores berrantes,
Alguma história componho, não estrago,
Mas tudo isso eu faço o quanto antes,
Não sem um tanto desse desagrado
E sempre em versos assim delirantes.

E fui ficando assim
Um pouco parecido com o que não sou
Um pouco presente onde não estou,
Um tanto ausente aonde não vou,
Fui ficando um pouco mais que esquecido
Eu fui ficando desaparecido,
De mim, de você, de tudo, de todos,
Em algum lugar ermo de lugar nenhum,
Fui sendo fugitivo deste mundo
E talvez de tantos outros,
Mas nem sei deste mundo,
Nem de outros eu sei,
Nem sei se estes versos
São delirantes ou beligerantes
Sei que eles vieram o quanto antes
Quando nem sei se há este mundo,
Ou outros ou talvez ainda nenhum.
Se existe este eu que sonha este sonho
Ou outro eu dentro do sonho de alguém
Que sonha este eu sonhando ele me sonhar,
Ou qual sonho dentro de qual sonho,
Nem sei...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/10/2012
Reeditado em 03/05/2021
Código do texto: T3947691
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