Poesia de meia-noite
Hora de tragar meu pseudoveneno
P’ra acoimar, ao menos, este repleno,
Sôfrego sofrimento só sofrido
Ao reptiliano modo vivido;
Longitude d’agra Melancolia
Eu não quero; nem quero anestesia
– Não a busca um peito ‘scamoso! –, nem cura:
Que se não me oferece, já, ternura
Of’rece-me demasiada vileza
Que minh’alma mantém cativa, presa
Em sua tanto maligna alcateia
Que jaz em meu sanguíneo, em minha veia!
Hora de tragar vapores da lenta
Morte – Ah! vapores da Morte lenta! –
Que o moribundo corpo meu percorre...
Mas este insiste, insiste e não morre!...
Menos inda vive, que é pobre, pobre
Corpo, feito lata; a alma, feito cobre,
Se vale pouco mais, é, pois, um mais
Sem valia e odioso em tristezas tais.
E se lhe não há, sequer, um talento,
Caia-lhe a vida!, e todo o seu tormento!