Poesia de meia-noite

Hora de tragar meu pseudoveneno

P’ra acoimar, ao menos, este repleno,

Sôfrego sofrimento só sofrido

Ao reptiliano modo vivido;

Longitude d’agra Melancolia

Eu não quero; nem quero anestesia

– Não a busca um peito ‘scamoso! –, nem cura:

Que se não me oferece, já, ternura

Of’rece-me demasiada vileza

Que minh’alma mantém cativa, presa

Em sua tanto maligna alcateia

Que jaz em meu sanguíneo, em minha veia!

Hora de tragar vapores da lenta

Morte – Ah! vapores da Morte lenta! –

Que o moribundo corpo meu percorre...

Mas este insiste, insiste e não morre!...

Menos inda vive, que é pobre, pobre

Corpo, feito lata; a alma, feito cobre,

Se vale pouco mais, é, pois, um mais

Sem valia e odioso em tristezas tais.

E se lhe não há, sequer, um talento,

Caia-lhe a vida!, e todo o seu tormento!

Jack Fernandez
Enviado por Jack Fernandez em 22/10/2012
Código do texto: T3946347
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