Dual
 
          "Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim."
Clarice Lispector

 

Todo lobo tem um pouco de cão
E todo cão um pouco de lobo.
 
O importante é que o cão
Fareje com sua lupa olfativa
A parte lupina.
Conhecendo seu rastro e sua sina,
uivando solitário às luas,
solidário às alcatéias noturnas...
E se o selvagem fizer qualquer ataque insano,
alerte o seu dono humano.
 
Também é relevante
Que  o lobo siga com o cão adiante...
Sem avançar.
Lavrando a terra e plantando ossos,
espionando calhas
(perseguindo canalhas)
Encontrando Vítimas Nos Destroços.
Mas que o silvícola não deixe o doméstico
constantemente o rabo abanar:
Há de se exibir os dentes caninos,
franzir o focinho,
levantar as orelhas e eriçar os pelos.
Quando o homem deixar de ser humano,
o cão deve rosnar.
 
Porque
Todo cão tem um pouco de lobo
E todo lobo um pouco de cão.
Well Coelho
Enviado por Well Coelho em 20/10/2012
Reeditado em 21/10/2012
Código do texto: T3943600
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