A PÉ

A PÉ

Lá vem um carro

Em seguida outro

E mais outro

Tirando-me o sarro

Sou eterno pedestre

Não tenho pneus

Sou terrestre

Meus pés e eu

Não dirijo

E me regozijo

Prefiro caminhar

A carrear

Todos me acham louco

E realmente não sou pouco

Mas há 62 anos sou caminhante

De caminhos deslumbrantes

Faço eu meus caminhos

Não tenho mãos de direção

Nunca fui abalroado não

E sempre cheguei direitinho

Nunca perdi a hora

Sempre acordei mais cedo

Nunca fiquei azedo

Nem disse esse trânsito só piora

Não buzino pra ninguém

Dou bons dias, tardes e noites

Não sofro xingamentos qual açoites

E meu nome é alguém

Se preciso dou ré

E não marcha a ré

Afinal meu pé

Mágico é

Viro a qualquer momento

Não fico em congestionamento

Não tenho dificuldade com estacionamento

Não passo por esse sofrimento

Se a viagem é comprida

Aí não tem saída

Tem que entrar num carro da vida

Dar no pé uma recolhida

Mas logo volto as origens

Andando pelas ruas e avenidas

Sem multas e culpas cometidas

Que só de pensar me dão vertigens

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 18/10/2012
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