A PÉ
A PÉ
Lá vem um carro
Em seguida outro
E mais outro
Tirando-me o sarro
Sou eterno pedestre
Não tenho pneus
Sou terrestre
Meus pés e eu
Não dirijo
E me regozijo
Prefiro caminhar
A carrear
Todos me acham louco
E realmente não sou pouco
Mas há 62 anos sou caminhante
De caminhos deslumbrantes
Faço eu meus caminhos
Não tenho mãos de direção
Nunca fui abalroado não
E sempre cheguei direitinho
Nunca perdi a hora
Sempre acordei mais cedo
Nunca fiquei azedo
Nem disse esse trânsito só piora
Não buzino pra ninguém
Dou bons dias, tardes e noites
Não sofro xingamentos qual açoites
E meu nome é alguém
Se preciso dou ré
E não marcha a ré
Afinal meu pé
Mágico é
Viro a qualquer momento
Não fico em congestionamento
Não tenho dificuldade com estacionamento
Não passo por esse sofrimento
Se a viagem é comprida
Aí não tem saída
Tem que entrar num carro da vida
Dar no pé uma recolhida
Mas logo volto as origens
Andando pelas ruas e avenidas
Sem multas e culpas cometidas
Que só de pensar me dão vertigens