Lida de um Saudoso Sertanejo

Acordo intumescido e bocejo,

o café já na chaleira ferve

o campo verde me aguarda lá fora

eu arreio a minha mula e vou-me embora.

Rasgo o estradão de peito aberto

e os pensamentos iluminam com o sol

canta no peito o coração de passarinho

trinos estridentes alternando um bemol.

No bagageiro o meu alforje e a lembrança

de uma menina dos meu tempos de criança,

Mariazinha foi tão cedo dessa cruel terra

mais uma vítima das agruras da insana guerra.

E vou seguindo olhando as flores beira estrada

paro a beber um gole d’água em cachoeira

junto gravetos e lanço a eles a pederneira

para aquecer a minha boia em caldeirão.

Essa é minha sina, no dia a dia do meu sertão

buscando abrigo e luz de amigo, imensidão

de liberdade, longe de toda turbulenta cidade

eu sigo em paz semeando minha plantação.

E em letras magras eu canto os versos da jornada

resignando os pés cansados e deixando a mente voar

entre essas áridas terras já esquecidas, tantas feridas

que vou curando, sempre superando sem me queixar.

E à tardinha no meu retorno a casa de taipa

encontro o belo sabiá saudando o arrebol,

todos sorrindo ao meu encontro vem latindo

meus companheiros de fidelidade, amigos cães.

E na noitinha vem radiante a lua majestosa

prateando em saudosismo o acorde da viola

e, eu sertanejo só reconheço a ausência do amor

que distante lê meus pobres versos de dor.

É nostalgia desse canto nascido no sertão

e, o amanhã novamente seguirei a lida

pensamentos lacrimejando pela querida

flor violeta que aqueceu-me em seus braços.