miragem
era das letras, a sede
era da palavra, a fome
eram da poesia, os olhos...
e nada foi, nada existiu
entrelinhas secaram teus mares
males sangraram teus rios, teus lábios
ah, mas que fosse tudo escârneo
fosse tudo deboche, farelo da carne
um tudo sem pregos, aos berros
restou um fim que não ouve
nesses versos cegos, reticentes
pontos e pontos abertos a esmo
tal qual feridas aos cântaros
que cantam em noites de lua tenra
e abrem-se em flores nos pântanos
mera visagem, mera imagem
nada houve, nada viu, nada e nada
só o eco do vacuo, uma quase, miragem...