Poema triste
Pobres mulheres que perderam seus filhos
No asfalto, entre lâminas e faróis
Em noite de chuva, quando o galho ao vento
Abafa o grito, e a alma não o deixa sair
Pobres mulheres que não enlouqueceram definitivamente
Nos braços da noite de chuva
Na sepultura do vento
Pobre das que viram a morte do sonho
E não puderam morrer
Pobres mulheres que entregaram seus filhos
Para os banquetes do mundo
À fome insaciável dos abutres,
Das máquinas, que se alimentam
Do sofrimento humano
Pobres mulheres que esperam
Com a eternidade da noiva no altar
Sem saber se a vida vem, ou se ela vai
Sem saber sonhar se o sonho
É apenas um sonho e nada mais
E amanhã beber só grande mágoa
Pobre da mágoa, e pobre de ti, mulher
Que sonhou de menos, porque sofreu demais
Pobres mulheres que o mundo exige
Que seja prumo, régua e compasso
E siga certa, por estradas tortas,
Sólida, em devaneio e mágicas
Pobre mulher que se perdeu
Nos labirintos de um coração,
De homem, estas criaturas imperfeitas
Feitas de angústia e carne
Pobre daquela que se apegou
Na noite fria deste coração.
De solidão em solidão
É feita a alma da mulher!