Quem sabe?

Euna Britto de Oliveira

Site de Poesia: www.euna.com.br

Que bom seria

Se você ainda fosse índio!

Contaminou-se com o branco

Contaminou-se comigo.

E agora, o que vamos fazer?

Nem na terra, nem no céu,

Como uma calça “pega-frango”

Que vai só até o meio da perna...

E agora?

Tenho saudades da aldeia

Do rio, dos peixes, do povo nu, eu no meio,

Do alimento cru, das camas feitas no chão

Eu perto do seu coração!

Os idosos respeitados

As crianças todas amadas...

Tenho saudades do que você me sugere

Mas nunca tive nem fui.

Fomos dragados pela civilização

Que, por sua vez, foi drogada...

Estamos sem solução, nós e nossos filhos.

A não ser que um índio velho

De cocar de plumas

E as mãos lavadas

Em água de sal e espumas

Um velho cacique e guerreiro

Passado por muitas provas

Por amor de um parentesco

Que vai longe em nossas veias

Nos tome pela mão e nos guie

Através de íngremes caminhos

Até chegarmos lá,

Ao descampado

Ao destapado

Onde possamos de novo

Pertencer à terra

E viver pequenos e ingênuos mas livres

Embora desconfiados

Entre árvores e coragens

Fechados na pele vermelha

Sem peias

Trançadores de redes e esteiras

Donos de fogueiras e estrelas...

Se um índio velho, parente, transparente

Nos tomasse pela mão...

Quem sabe?...

Quem sabe, haveria solução?

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 26/02/2007
Código do texto: T393552