POEMA

"OSCAR, homem bruto, talhado ao sol

Nordestino vigoroso e trabalhador

Sem estudo e nada de cultura

Criado com dificuldades e sofrimento

No inferno escaldante do sertão

MARIA, morena, cor de jambo

Linda cabocla brejeira, igualmente sofrida

Sem conhecimento do que era o mundo

Limitando-se aquele torturante pedaço de chão

Pedaço de chão criado por DEUS e amaldiçoado pelo CÃO

OSCAR, nordestino comum, sem escola e sem saúde

Autodidata por natureza, nunca precisou de professor

Se estudasse seria com certeza engenheiro ou doutor

Inteligência, era sua sorte e condição de sobrevivência

Onde sobrevivência era literalmente um caso de sorte

MARIA, primeira de oito filhos, entre eles única mulher.

Mais um motivo de sofrimento, desde cedo aprendeu o que era obrigação.

Tendo que ajudar na criação de tão grande prole

Se resignando com sua sina de mulher, numa terra que mulher não tinha voz.

Subserviência era estilo de vida construído por uma cultura primitiva

OSCAR, forte como um touro não se entregou, trabalhou

Desde pequeno seu destino já estava traçado com muito trabalho pesado

Sertanejo forte, bonito e inteligente, encarando firmemente seu dia-a-dia.

Não reclamava, trabalhava. Não chorava, sempre sorria.

Em meio a tanto sofrimento ainda encontrava motivo pra cantar.

MARIA, menina faceira, tendo sua maior qualidade a beleza,

Se encantou e deixou-se encantar por um matuto de olhos azuis

Um encanto forte e apaixonante quase que por encanto

Quem disse que no fim do mundo não tem amor?

Tem sim. E uma união inevitável se realizou

OSCAR, pretenso pé de valsa, nos braços da bela morena se entregou,

E numa vida a dois seu mundo se idealizou

Mas com a juventude aflorada na pele, boêmio continuou a ser

Mulherengo, bom bebedor e inveterado jogador.

Entre brigas e muito amor, uma nova linha do destino ele desenhou.

MARIA, entusiasmada e muito apaixonada ao belo caipira se entregou

Mas em nada sua vida melhorou e o sofrimento continuou.

Nunca reclamou, sempre se calou e muitas vezes chorou

Sabendo que tudo se resumia em um pleno e verdadeiro amor,

E sem nunca esmorecer, por esse amor lutou, lutou e lutou.

OSCAR, com o passar dos anos foi se endireitando, se acertando

Fugindo das raízes sofridas e sem nenhuma perspectiva de vida

Muda-se para o sul em busca de melhores dias, deixando sua amada

E sempre que podia voltava, tentando trazer esperança de dias melhores

Entre estas idas e vindas era um filho que fazia, que nascia e morria,

Pra sobreviver dois, dez morreram, tal era a dificuldade de sobreviver.

MARIA, cansada de sofrer, tomou também o rumo ao sul

E novas raízes criou, neste mundo novo rico e belo, o Rio de Janeiro.

Aos poucos a vida foi melhorando para ela e seu caboclo.

A caminhada foi árdua, sofrimentos tiveram, mas agora com um pouco de dignidade

Sofrimento amenizado, aumentou sua prole em mais cinco, desses só um não vingou.

OSCAR, amadurecido, agora bem estruturado, pra sua família passou a viver

Trabalhando de sol a sol, sua família ele criou e educou, longe do sofrimento nordestino.

E assim se resume a vida de duas pessoas sofridas e trabalhadoras que viveram,

Lutaram, riram, choraram, brigaram, mas que nunca se separaram por vontade própria,

Só quando DEUS precisou de um homem forte e destemido, para sua legião de aliados.

MARIA, a bela morena brejeira, chorou a morte de guerreiro e escudeiro.

A vida partida em dois pedaços, uma morte seca, uma morte viva,

Vivendo a vida, ela foi, teimosa como o Sol do seu nordeste

Morte e vida, se liberta, afronta, perde o rumo sem seu guia

Vida Maria, morte bandida, a vida finda com a triste morte de MARIA!

Essa é a história de um homem simples e sua amada

E que várias gerações irão ouvir e se encantar

Homenagem justa à

OSCAR DE MARIA e à MARIA DE OSCAR"

Liu Bernardo
Enviado por Liu Bernardo em 14/10/2012
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