Piolho de defunto
Meus piolhos eram de defuntos. Minha mãe dizia isso, pois toda
Semana reaparecia. Passava vergonha na escola, passava, mas não
Tinha jeito, ela me pegava no meio das pernas e me prendia ali,
Perto dela, com cheiro de vagina na minha cara. E começa a captura.. Lêndeas em fila nos fios. Os cabelos ficavam como grisalhos. Que vergonha eu ficava...
Quando pegava um pilho grande, gritava: “mãe, vem ver o tamanho desse baita”. Minha vó olhava O sacrifício do piolho, o sangue espirrava nas unhas. “por isso que o bichim não dorme de noite”. “falta arrancar o coro da cabeça”. Eu ouvindo aquilo e o cheiro forte da pernas da minha mãe me afogando. Pensava no meu pai,
Medo dele chegar e me ver naquela posição com a minha mãe...
Olhava pra cima de via sua cara de novo diante da minha fartura,
“É melhor passar um pente fino’ e coco da minha cabeça faltava
sangrar...e parecia feliz quando o pano branco ficava preto...
“não lava a cabeça direito, não!” nem sabia o que responder...
Na época de muito calor, a gente suava muito, eu e os meninos, todos mais novos do que eu, danava a coçar, os sovaco, a virílha,
Os dedos dos pés, a palma da mão...”É sarna de novo, Judinha”.
Minha vó na sua sabedoria dava o resultado ali, só olhando, na certeira ...”é essa Água nojenta do rio, cheia de esgoto. Bosta flutuando pra todo lado. Eu falo pra não entrar lá, trem. E minha mãe me olhava com Cara de nojo como se a gente não tivesse jeito pra ser gente...
“vai na farmácia e comprar enxofre, dois pacotinhos” e para
minha vó falava. Quando a senhora vim do rio, arranca umas folhas
de são caetano bem verdinha, mãe...não esquece, senão pega em
todo mundo...falava isso me olhando, e eu culpado...como me sentia
culpado de pegar essas coisas....
no final do dia, o sol ainda quente, minha vó chegava. Minha mãe pisava a planta com sal, misturava no enxofre e esfregava com bucha de fedegoso na gente, e chorava, e gritava e pulava, ardia pro diabo...”fica quieto!”...depois tomar sol até ficar seco. O fedo enxofre dava ãnsia e ficava colado na nossa pele um monte de dia...era uma vergonha de doer quando alguém perguntava que cheiro era aquele...e eu inventava qualquer coisa...tinha terror
de descobrir que estava com sarna...
os olhinhos da minha vó era tão pequeno, pousava na gente cheios
de dó, aquilo me aliviava um pouco, com ela eu sabia que podia
ser qualquer coisa, até um piolhento. Com ela eu me odiava
um pouco menos...me chamava com o braço pra perto dela
e me apertava minha cara na sua barriga...e quando ela fazia
isso eu eu me assustava pois era forte o medo de minha mãe não
gostar, pois vivia alarmando todo dia que eu era dengoso e não crescia nunca...principalmente quando me batia e eu ia chorar perto da minha vó, que nunca triscou a mão em mim...
a melhor hora do dia era a tarde, quando meu pai chegava do trabalho...e eu deixava de ser o centro das atenções com minhas
lêndeas e coceiras. Minha mãe sentava na porta do corredor, acendia os dois seus cigarros, cada um com xícara de café e falava
de toda história desde quando eles casaram, das fomes que passou
em são paulo, do dia que meu pai quase foi preso porque deu um murro na cara de seu Carlito. “ele mereceu”, salvava minha mãe, pra
lhe tirar a vergonha...se gostavam, dava pra ver...ele pegava nos cabelos dela, e na cozinha minha vó batucava nas panelas. Ciumenta
de atenção...mas isso não atrapalhava a janta que era muito gostosa...nunca vi ninguém cozinhar como ela. o cheiro ascendia por
toda a casa, e a fome ia aumentando. A noite ia chegando e não sei porque eu ficando triste, como se chegasse o fim de alguma coisa...
a casa ficava maior, os meninos pequeno no cimento do quintal brincando era chamado pra tomar banho....e minha cabeça danava
a fervilhar, corria para o quarto, eu me coçar atrás da porta,
pois já estava cansado do cheiro de enxofre..."e eu continuava
a pensar de qual defunto eu herdei meus piolhos"