insensatez de poesia...
Vou sair pela noite a brincar de louco:
dançar valsas de Strauss com a madrugada,
quero sorrir com os bêbados e mendigos,
saldar os cães, imitar o canto dos galos…
Vou sair pela noite a brincar de louco:
levar a ela a lua de presente dentro do olhos,
orar a feição das coisas nas ocasiões mortas,
deixar-me alagar de nada e me por a sorrir…
Vou sair pela noite a brincar de louco:
sem jamais ter possuído irei à caça do perfume
de alvorecer e daquele olhar de nada querer,
vou orar que o dia nem principie a nascer…
Vou sair pela noite a brincar de louco:
deixar que a insensata poesia tinja-me o olhor,
depois de verde, roubarei o azul das núvens
e me cobrirei de céu pelas calçadas frias…
Vou sair pela noite a brincar de louco:
buscar as coisas de infância que perdi nos atalhos,
agarrar os vestígios de menino que ainda existe,
reaver o que o homem e o tempo amoitaram…
Vou sair pela noite a brincar de louco:
que esse agir tenha ambição e força de eternidade,
que a poesia me trespasse a cada tarde cinzenta,
que a noite seja palavras com olhos de poema!