Aos mortos e desaparecidos
Uma noite eu vi
o céu se enfurecer
e as estrelas ficarem opacas;
uma noite eu vi
companheiro
a terra se perder no espaço.
Uma noite eu vi
a lua se esconder
numa grande sombra
maior que a tua angústia
mais negra que a tua solidão.
Olha amigo,
nesta noite eu vi(vi)
o destino daquele
que não aceitou ver
a grande floresta se manchar
de verde-oliva-amarelo
e então tingiu de vermelho-sangue
o broto
- e a essência nunca mais foi (será)
a mesma.
Na grande noite - noite escura
dos porões ouvi gritos abafados
vi membros jovens mutilados
e línguas cortadas
emudecidas.
Vi o eclipse
a terra pequenina
perdida no deserto astral
e a longa noite se consumar;
depois eu (vi)vi
a semente germinar novamente
furta-cor
tinta-cor (verde, azul?)
e tudo se resumir
no branco da tua mão mutilada
tocando as estrelas...
Liberdade
palavra bonita
perigosa
atemporal
- qual é teu preço?