Base Desbaseada
Folha em branco
Nem uma linha
Nem um fio
Nem uma letra
Frio
Gelo e arrepio
Na espinha
Céus! O que ponho aqui?
Não posso repetir
O que faço a cada ano
Não, não nessa folha.
No início de doze meses de tormento
Considero a vida uma folha em branco
Um novo capítulo a ser escrito
Mas eu só rabisco
Riscos e rajadas abstratas
Vejo lágrimas aquareladas
No lugar de letras bem dispostas
Um suor cinza, suor do sem esforço
Sonho poetizado na náusea
De uma mão dispondo
Apenas de um grafite estragado
Amado
E molhado de lágrimas coloridas
É. Até aí,
Fiz mais que (des)colorir a vida
Nessa falta de ilusões
O céu fica mais baixo
Mas ainda existe, e
É uma base desbaseada
De um lápis sem ponta
Para poetizar a folha em branco.