O Inextinguível


 

Aos poucos, o inverno se cansa,
aos poucos, as aves retornam.
Não o cisne, com seu canto de morte,
mas mutações arbitrárias da orquestra.
O gelo, irá se tornar novamente atmosfera,
e a luz, deixará de se esconder atrás da terra.
E na profundidade oculta de uma caverna,
lá onde se guardam as verdades e partituras,
acordará minha voz, presa dentro da pedra,
berrando aos ouvidos, de uma possível primavera,
a polifônica engenharia da fome e da espera.
De cada nota arremessada ao espaço profundo,
nascerá uma arcada para sustentar ao céu.
De cada arcada uma porta para o infinito,
por onde passarão meus anjos de papel.
Origami para reconstruir o universo,
branco e sólido como a vontade furiosa...
meu mundo agora se dobra sobre si mesmo,
e no fim das esperanças, renasce a grande obra.
Inextinguível por natureza, é a persistência das horas,
onde cada uma constroi do que foi gelo e metal,
o fluido e espesso sangramento da vida breve.

Cada guerra encerrada na geleira,
se tornará a cinza que fertiliza a fé.
E cada músico, cada um que carrega uma bandeira,
deixará sobre o chão a marca de sua dança,
feita de pó de estrela, poeira e sal.
Porque no peito, sempre habitará o mal.
E para cada fim de inverno austral,
haverá uma esfera flamejante no céu de novembro,
para tornar verossímeis as conclusões de cada final.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 09/10/2012
Código do texto: T3924101
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