Chuva

Água suicida que atira-se das nuvens, traz-me inspiração.

Num mergulho caótico sem destino certo, mil companheiras

precipitam-se ao sabor do vento num abismo indefinido;

Banhando amores mutilados, gerados na carência, perturbados

pela brevidade de sua existência;

Encharcando um coração solitário, aprisionado na indiferença;

Animando ao homem velho, a água fresca faz sorrir, e o sorriso

propaga-se nos labirintos da memória e chega ao salão dos sonhos,

onde a fantasia faz-se tão forte quanto a realidade,

onde o tempo é um brinquedo esquecido em algum canto,

onde habita a saudade, dona da infância perdida,

onde o sorriso esmorece, e a água fresca lhe faz chorar...

E o cristal indomável que não se fixa em anéis, purifica cada

alma, solitária ou não.

A energia contida em milhões de gotas, é lágrima

aos olhos miseráveis, é indiferente a olhos abastados e é

inspiração a olhos poetas.