UM BAR NA CIDADE
A mesa me recebeu indiferente
Taça de vinho
Como lagrima rubra que vou beber
Nas mesas ao redor outras almas
Coexistem...
Trocam estórias...
Trocam olhares...
Trocam farpas...
Somos todos satélites na orbita do grande sol bar
Trazer nossos pecados para cá
Apagar nossos sonhos aqui
Fazemos isto
Pela grande vitrine observo o céu escuro
A chuva é grossa
Precipita-se em gordas gotas sobre esta cidade infame
Pedestres apressados...
Ocupados...
Alheios...
Quantos deles queriam estar aqui também?
Quantos ainda virão?
Quantos já vieram?
Ergo o copo...
É quase doce o vinho
Amargo é apenas meu motivo
Há uma atmosfera de magoa a minha volta
A tarde tem sabor de perda
A conversa escutada tem tom de canção
Ou de lamento...
Em outra mesa dois olhos cansados
Face alva
Cabelos negros
Fita-me em silencio
Não há mesmo nada a dizer
O mundo parece ter perdido algo hoje
O mundo... eu creio deve algo para todos
E ninguém sabe o que fazer a respeito
Ninguém sabe...
Bebemos então... que seja
Conversamos...
Ao menos quem tem o que dizer...
Calamos
O trovão estronda no céu da cidade entediada
O relâmpago hoje hostil risca o firmamento cor de chumbo
Eu vejo tudo...
Eu beberico vinho...
E penso em dias de outrora.