O fogo-fátuo na ribanceira

Sou o pedaço de carne seca do jagunço

Ao sol esturricando

As pedras feitas de lama de um rio que secou

Sou o sol no zênite

No olho da caatinga

Sou do vaqueiro cansado

O gole de pura pinga

E quero ser o canto do pássaro mais triste

Quero ser o braço do mandacaru em riste

O verde que engana o lavrador

O menino fantasma na porteira

O fogo-fátuo na ribanceira

Eu ainda hei de ser o sol se despedindo no horizonte

O som do dia amanhecendo sobre as casas

O bule fumegante de café

Eu hei de ser a falta d’água

O tiro que derruba a ave de arribação

Hei de ter todo o sofrimento e beleza

Dos descampados

As asas de tímidas borboletas

E a flor do campo alegrando os olhos inocentes da natureza