No meio do caminho
"Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate"
No meio do caminho de minha vida,
Quando ainda não sabia quem era, que tudo era ilusão,
Tinha uma pedra.
Ela me seguira desde sempre, sorrateira,
Na tocaia, esperando o momento certo de atacar.
Essa pedra era uma onça, furtiva e malsã.
Ela estava ali para me pegar de qualquer maneira,
E sabia que eu sabia, por isso ficava ali a espreitar.
Foi então que aos dez e quatro anos ela me atacou.
Sem piedade, fui diminuído, humilhado,
Fui apedrejado como que por quem nunca pecou
E os meses seguintes foram de puro torpor.
Estranhamento se deu e me vi perdido no meio do caminho.
No meio do caminho de minha vida tomara um novo caminho.
Nesse curso estranho haviam pedras, belas pedras.
Me perdi tentantdo contorná-las e me encontrei ao admirá-las.
Mas a onça traiçoeira me seguia sempre.
Nesse caminho pelo qual seguia hesitante, corri.
Corri e fui perseguido por ela,
Essa pedra que não era como as outras por não ser externa,
A pedra-onça era diferente por ser parte de mim mesmo.
No meio do caminho de minha vida tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio de minha vida.
Do meio de minha vida e pelo caminho que seguia tinha uma pedra.
Pedra essa que me seguiria esperando que me perdesse,
Teria sempre uma pedra até que mais vida já não houvesse.