Saída de emergência

 

 

 

Sou um anti-corpo para o súbito,
o único atirado contra a muralha,
pra proteger sua parca sobrevivência.

o chão se abre no sétimo andar:
somos nós construindo o abismo.
As lembranças caem para o infinito,
como frutos apodrecidos da intimidade.

E me resta caminhar pelas ruas cheias de medo,
observando pinturas cambiantes e indevassáveis,
dos rostos noturnos, dos modernos contos da nação,
porque é necessário morrer em nome de um jogo,
em nome de uma fome que ocupas os becos e vielas,
e construir uma história que me dirá, alguma dia,
que por aqui sempre passei sozinho e ludibriado,
pois o amor não conecta, o amor é a diferença.

Novas armas inventadas para combater a esperança,
traduzem a linguagem culta de um inferno pessoal.
Por que se diz que a presença é definitiva?
Extirpa-se do peito o pior lodo da expectativa,
e deixa-se para traz alguns pedaços da carne
cortada no próprio braço e no próprio poema.

Agora mesmo passa-se o óbvio ante os olhos,
agora mesmo deixa-se de se amar uma extensão.
Todo corpo que se ama é um apêndica anti-natural,
rejeitado pelo organismo, necrosado com o tempo,
e se não mata ao hospedeiro, apodrece em sua própria ilusão.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 07/10/2012
Reeditado em 07/10/2012
Código do texto: T3920811
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