Rotina
Abro os olhos e vejo a parede
De mim ainda há existência
E, vede!
Ainda resta carência
Sim, com veemência
Luto para que
Ainda haja rastro de paciência
Numa mente tão macia
Que mesmo parecia vazia
A dor crescia
Doía, doía, doía
Doía muito ao olhar
Porque eu via nesse ar
Muita gente perdida
Como em meio a ondas do mar
Via cada vez mais feridas.
Será que ninguém percebe
Que o a antes do mar
Abre um universo pra pensar?
Pra descobrir?
Pra acalmar?
‘O amor passou
Mas o coração continua’
E a dor de quem amou?
Torna a alma assim tão nua
Que o viver já nem sonhou?
A mocidade está na lua,
Mas a infância já descolou
Sinto o peso do mundo
Minto, da vida
No meu ombro imundo.
Não falo da paixão desprovida
Falo do cuidado ao moribundo
Do interior de uma amiga havida
De um coração profundo
Quer o romance?
Ah, deixa o tempo cuidar dele
O coração, certamente, nele
Há de surgir uma chance
O amor daquele
Esperado romance
E terá grande alcance
Fecho os olhos
E abro a mente
E a solidão volta contente
Eu volto contente
Já ninguém mente
Vejo-me no espelho
E penso: Pobre demente
Esse foi mais um dia
Ou mais um minuto
Talvez até um ano podia.
Eu escreveria essa poesia
E você, amigo, veria
Eu a odiaria
E eu a amaria.