Eu não gosto de ser cruel

Eu não gosto de ser cruel

Mas às vezes sou obrigado

A dizer o que me fere,

A maltratar e depois virar o rosto

Para que não vejam minhas lágrimas

De remorso.

Obrigado, Jesus, por não existir.

Do contrário, eu teria que respeitar leis

Estúpidas pelo bem da minha

Posição social.

Uma canção toca agora,

Não sei o nome dela,

Mas ela me revela mais coisas

Que o Ensino Médio, os livros de Direito

Ou o telescópio Hubble.

Caminhando por um shopping de Brasília

É inevitável que eu perceba o desperdício

Que simplesmente existe, como uma porta entreaberta

Através da qual o vento passa.

As vitrines estão repletas de

Corpos perfeitos para produtos imperfeitos,

Mas eu sei que esse verso não convence ninguém.

E para aqueles que percebem isso

Entrego aqui minha garrafa

Ou você prefere a camisa de força?

A história é escrita nas frases não ditas pelos jornais.

Os jornais são púlpitos dos deuses.

E é urgente termos

Leitores ateus.

E é urgente termos analfabetos da alma, já que quase ninguém

É capaz de ler alguns parágrafos encarrilhados,

Mas quase todos podem

Apontar o caminho da salvação.

Ó Estevão da tabacaria,

Ó Willian do churrasquinho,

Ó Gaguinho da vodca,

Ó Miranda da cerveja,

Ó Dário do Frango Assado,

Ó Baiana do Acarajé,

Ó ambulante qualquer,

Tão importante quanto qualquer um

E tão mortal como nós

Após o milagre do sol.

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 06/10/2012
Código do texto: T3918572
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