A brisa passou

Quando a brisa passou

eu julguei sentir teu perfume

molhando a minha lembrança

correndo por minhas veias

De mansinho a brisa passou

pela janela entreaberta

resvalando nas cortinas

do dia amanhecendo sem pressa

Pelos becos a brisa passou

pelo passado recitativo

da rua aberta para o mundo

trazendo de longe a saudade

Chamando o teu nome a brisa passou

e subitamente a noite se fez imensa

recendendo a benjoim

ressoando o ruído dos ventos

Incessante a brisa passou

tocando as pétalas da amorável rosa

tocando a lembrança do teu rosto

a brisa passou, Maria,

em teus olhos escuros

Ó, efemêra brisa que passou

pelo instante inelutável de morrer

pela miragem dentro do espelho

onde cantam tardas canções antigas

Sob o luar dentro do mar a brisa passou

quase bruma, quase lua, quase fim

as mãos, os olhos e o peito cheios de ti

cheios deste sonho sonâmbulo rumo à aurora

moldura tardia para a lágrima é o amor

Sozinha a brisa passou

sob o silêncio que espreitava a tarde

sob os nossos corpos inconsuteís

sob os meus sonhos

[repletos de você